“Não tem altura o silêncio das pedras”: a primeira infância no discurso do UNICEF

dc.contributor.advisor1Garcia, Maria Lúcia Teixeira
dc.contributor.advisor1IDhttps://orcid.org/0000-0003-2672-9310
dc.contributor.advisor1Latteshttp://lattes.cnpq.br/3834218481612647
dc.contributor.authorFonseca, Aline Elisa Maretto Lang
dc.contributor.authorIDhttps://orcid.org/0000-0002-5022-5692
dc.contributor.authorLatteshttp://lattes.cnpq.br/1581253089192389
dc.contributor.referee1Melim, Juliana Iglesias
dc.contributor.referee1Latteshttp://lattes.cnpq.br/8874692437191296
dc.contributor.referee2Siqueira, Marcia Smarzaro
dc.contributor.referee2Latteshttp://lattes.cnpq.br/1749025865421455
dc.contributor.referee3Pereira, Camila Potyara
dc.contributor.referee3IDhttps://orcid.org/0000-0003-1117-2468
dc.contributor.referee3Latteshttp://lattes.cnpq.br/4621637454405096
dc.contributor.referee4Nogueira, Vera Maria Ribeiro
dc.contributor.referee4IDhttps://orcid.org/0000-0003-4158-1510
dc.contributor.referee4Latteshttp://lattes.cnpq.br/6925549508843228
dc.date.accessioned2025-10-23T20:36:35Z
dc.date.available2025-10-23T20:36:35Z
dc.date.issued2025-07-10
dc.description.abstractThis thesis examines the discourses of the United Nations Children's Emergency Fund (UNICEF) on early childhood, which, under the guise of equal rights, impose unequal treatment on children in different nations. We analyze the presence of early childhood on international agendas as a discursive and political strategy to end poverty adopted by UNICEF, demonstrating why it assumes different forms depending on the socioeconomic context. The study is based on historical-dialectical materialism and a qualitative approach. Its corpus brings together 104 UNICEF documents (1972-2023) subjected to thematic content analysis in three stages (pre-analysis, coding and inference) focused on key content, discursive strategy and silences. It was found that early childhood appears in the 1973 Annual Reports, linked to nutrition, drinking water and basic education. In 1978, driven by the Alma-Ata Conference and the GOBI package, early childhood became a permanent agenda, signaling the transition from specific survival actions to a structured global agenda. The agency’s perspective varies according to the economic scenario: in the 1980s, under the motto adjustment with a human face, comprehensive Primary Care was reduced to low-cost interventions; in the following decade, with the neoliberal turn, the grammar of rights emerged (1989 Convention) and, soon after, the paradigm of human capital and social investment. Between 2000 and 2015, this logic was repackaged by the (Millennium Development Goals) MDGs/SDGs, which combined cost effectiveness metrics with the promise of high economic returns. In the guidelines, central countries received recommendations for expanding universal services and gender equality, while peripheral countries were targeted with low-cost packages based on return on investment indicators. The rhetoric of efficiency, which assumes greater future returns, reinforces selectivity and peripheral dependence. Although it invokes the Convention on the Rights of the Child, UNICEF subordinates rights to productivity metrics and transfers responsibility for the success of interventions to families – especially women. The institutional lexicon changes according to the situation, but maintains the legitimacy of the social order: in the 1970s and 1980s, basic services/adjustment with a human face prevailed; in the 1990s and 2000s, human capital/social investment; after 2008, resilience emerged; since 2018, these statements converge in the Nurturing Care Framework, a reference for the SDGs and their five pillars (health, nutrition, responsive care, early learning, protection). This trajectory confirms the adaptive, persistent and strategically selective nature of the institutional lexicon. At all stages, neuroscientific arguments and cost-benefit analyses transform care and affection into market assets, deepening the financialization of social reproduction. It is concluded that UNICEF's universalist discourse operates as an ideological mechanism of capital: it legitimizes policies focused on peripheral countries, preserving hierarchies, while allowing narrow achievements in terms of social rights. By articulating early childhood and social investment under a critical eye, this research fills an academic gap and provides support for truly universal and socially just policies, repositioning childhood in development strategies.
dc.description.resumoEsta tese examina os discursos do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) sobre a primeira infância, que, sob a aparência da igualdade de direitos, impõem tratamentos desiguais às crianças em diferentes nações. Analisamos a presença da primeira infância nas agendas internacionais como estratégia discursiva e política de combate à pobreza adotada pelo UNICEF, demonstrando porque ela assume formas distintas conforme o contexto socioeconômico. O estudo apoia-se no materialismo histórico-dialético e em abordagem qualitativa. O corpus reúne 104 documentos do UNICEF (1972-2023) submetidos à análise de conteúdo temática focadas em conteúdo-chave, estratégia discursiva e silêncios. Verificou-se que a primeira infância aparece nos Relatórios Anuais de 1973, ligada a nutrição, água potável e educação básica. Em 1978, impulsionada pela Conferência de Alma-Ata e pelo pacote GOBI, a primeira infância torna-se pauta permanente, sinalizando a passagem de ações pontuais de sobrevivência para uma agenda global estruturada. A perspectiva da agência varia segundo o cenário econômico: nos anos 1980, sob o lema ajuste com rosto humano, a Atenção Primária integral é reduzida a intervenções de baixo custo; na década seguinte, com a virada neoliberal, surge a gramática dos direitos (Convenção de 1989) e, logo depois, o paradigma do capital humano e do investimento social. Entre 2000 e 2015, essa lógica é reempacotada pelos ODM/ODS, que combina métricas de custo-efetividade com a promessa de alto retorno econômico. Nas orientações, países centrais recebem recomendações de expansão de serviços universais e igualdade de gênero, enquanto periferias são alvo de pacotes focalizados de baixo custo baseados em indicadores de retorno do investimento. A retórica da eficiência, que supõe maior retorno futuro, reforça a seletividade e a dependência periférica. Embora evoque a Convenção sobre os Direitos da Criança, o UNICEF subordina direitos a métricas de produtividade e transfere a famílias – sobretudo mulheres – a responsabilidade pelo êxito das intervenções. O léxico institucional muda conforme a conjuntura, mas mantém a legitimação da ordem social: nos anos 1970-80 prevalecem serviços básicos/ajuste com rosto humano; nos 1990-2000, capital humano/investimento social; após 2008 surge a resiliência; desde 2018, esses enunciados convergem no Nurturing Care Framework, referência para os ODS e seus cinco pilares (saúde, nutrição, cuidado responsivo, aprendizagem precoce, proteção). Esta trajetória confirma o caráter adaptativo, persistente e estrategicamente seletivo do léxico institucional. Em todas as fases, argumentos neurocientíficos e análises de custo-benefício transformam cuidado e afeto em ativos de mercado, aprofundando a financeirização da reprodução social. Conclui-se que o discurso universalista do UNICEF opera como engrenagem ideológica do capital: legitima políticas focalizadas nos países periféricos, preservando hierarquias, embora permita conquistas pontuais de direitos. Ao articular primeira infância e investimento social sob olhar crítico, esta pesquisa preenche lacuna acadêmica e oferece subsídios para políticas verdadeiramente universais e socialmente justas, reposicionando a infância nas estratégias de desenvolvimento.
dc.description.sponsorshipFundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES)
dc.formatText
dc.identifier.urihttp://repositorio.ufes.br/handle/10/20527
dc.languagepor
dc.publisherUniversidade Federal do Espírito Santo
dc.publisher.countryBR
dc.publisher.courseDoutorado em Política Social
dc.publisher.departmentCentro de Ciências Jurídicas e Econômicas
dc.publisher.initialsUFES
dc.publisher.programPrograma de Pós-Graduação em Política Social
dc.rightsopen access
dc.subjectPrimeira infância
dc.subjectPolítica Social
dc.subjectDesigualdade social
dc.subjectPobreza
dc.subjectDireitos da criança
dc.subject.cnpqServiço Social
dc.title“Não tem altura o silêncio das pedras”: a primeira infância no discurso do UNICEF
dc.typedoctoralThesis
Arquivos
Pacote Original
Agora exibindo 1 - 1 de 1
Carregando...
Imagem de Miniatura
Nome:
AlineElisaMarettoLangFonseca-2025-Tese.pdf
Tamanho:
5.05 MB
Formato:
Adobe Portable Document Format
Descrição:
Licença do Pacote
Agora exibindo 1 - 1 de 1
Carregando...
Imagem de Miniatura
Nome:
license.txt
Tamanho:
1.71 KB
Formato:
Item-specific license agreed upon to submission
Descrição: